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Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2014

Escrevo

Escrevo só para me convencer, que as palavras são a invenção fundamental do homem, mesmo com os silêncios e pausas que por vezes impõem. Escrevo porque as palavras lavram feridas profundas que não saram e sangram muito. Mas também porque são os pensos que estancam as hemorragias de medos desconhecidos. As palavras podem agora estar arredondadas em significações primitivas - retrocesso a mundos cavernosos – tempos de agora, que logo mudam. Fenómeno temporário. Não te assustes! Dá-me as tuas palavras. Gosto. Escrevo porque as palavras são a fotossíntese dos homens, suplemento mulitavitamínico sem genéricos de baixo custo. Escrevo porque não consigo deixar de deslumbrar-me a cada momento, pela beleza ofuscante da sensualidade da sua caligrafia , pousadas ao de leve,no lençol branco marfim onde repousam, vindas do longo caminho de um pensamento. Escrevo para te dizer olá, e iniciar a épica aventura de comunicar contigo, dizer-te o que sou, absorver o que és, disfrutarmos nest

O meu menino é Artista.

Sou mais para uma colcha bem feita ou um naperon, isso sim até aos olhos me chega a maré alta. Não é que tenha jeito, com estas mãos sapudas e desajeitadas, uma sempre a fazer o que a outra não quer, mas valorizo um trabalho bem arrematado. Coisas de mulheres.  Sou uma pessoa que se contenta com coisas simples: um sorriso do meu menino à sua Maria, faz-me sentir Mãe e pronto. É homem e casou, mas continuo a cuidar dele . Há dias em que a sua casa está uma desarrumação , nem sei por onde pegar. O Manel merceeiro diz que os artistas andam sempre em festa. Não sei onde vai buscar estes conhecimentos das vidas dos outros, mas como merceeiro, com uma correnteza de fregueses a entrar e sair da loja, apanha aqui e acaba por ser um jornal andante, pombo correio sem asas. Sem sair da loja, arredonda na conta das batatas por um bom desabafo das clientas, e assim ganha esses conhecimentos das coisas importantes das vidas que por lá passam. Restos de vinhos nos copos e beatas dos ciga

O Circo está na rua

São oito horas da manhã, são sete horas da tarde. A energia, o sorriso genuíno extravasam a jarra do universo, num pequeno planeta perdido algures na via láctea. Há um Google Maps da via láctea? Estamos em lugar de privilégio na sala de sonhos com maior rotatividade de espectadores por minuto, e a actuação só dura ténues segundos. Massas, fitas, lançadores de fogo, monociclos, representações na borrasca e na bonança, num teatro-circo em céu aberto. Um cão rafeiro, cão estátua tensamente atento aos donos, o mais acérrimo dos críticos, assiste no bordo do passeio na primeiríssima fila. A sincronicidade da actuação, das saudações e da recolha de propina, são absolutas. Relógio suíço. Fim de mais uma actuação. Tempo para pôr a moeda no saco velho, mimo ao animal, treino que antecede a próxima entrada em cena. A revisão mental da sessão seguinte, repetida mil vezes num dia. A glória, depois de uma execução irrepreensível. Um rapaz e uma rapar

Eram para aí uns quatro ou cinco

Àquela hora da manhã, engalfinhados nas filas de trânsito ignora-se tudo. Não se ignora, não se pensa. O ambiente mais ou menos sofisticado da viatura que nos transporta é a continuação em movimento, do casulo- cama. No pára - arranca, o carro escorre lentamente, ocupa nesgas, antecipa fugas para a direita, para a esquerda. A fila onde estamos é sempre a pior. Vamos ser os primeiros a chegar, nem que seja por uma unha negra! Às sete e meia da manhã, somos os reis da selva. As leoas conduzem com uma mão enquanto a outra segura o telemóvel, ajeita o rímel nas pestanas, acrescenta cor nos lábios. A multiplicidade impressionante de coisas que elas conseguem fazer ao mesmo tempo!  Nós, que ficamos mareados só com duas tarefas duma vez, vociferamos e arreganhamos o dente ao condutor do lado. É feio! A irritação é tanta, que bloqueia o discernimento. A elas nada afecta, impávidas, majestáticas. Lindas e absurdamente dominadoras! No prolongamento natural dos rituais de confro