Irmão meu, por aqui o tempo é o da fraqueza, da falta de
força para evitar que o que criámos juntos que, diga-se, ficou muito aquém do
que ambos desejamos, se desvaneça ainda mais.
Não sei explicar-me porquê, a minha estupefação perturba-me
o raciocínio, talvez porque seja francamente ingénuo é o que acho. Mas
sobreleva a hipocrisia, a ligeireza esperto-matreira, e grave, grave… a
impunidade e despudor.
É ligeira a forma como se arquitetam as ideias e mais
ligeira ainda a perseverança com se levam à prática. Nascem assim do pé para a
mão, como se não fosse possível terem raízes e lançam-se assim da mão para o pé
que as chutam longe e bem para cima, para onde não podes alcança-las. São
ideias sem raízes, que ali ficam pululando com a determinação de serem únicas,
frequentemente disputando a inconsistência do achismo. Por princípio valem
todas, mas depois valem sobretudo as ideias a que não podes dar valor… por mais
que o teu cansaço te desmobilize. Para tão longinquamente chutadas as ideias a
que não damos valor tornam-se quase inalcançáveis para que sejam para as
discutir-nos porque não lhes damos valor…
Quando lá chegas, raramente e com o custo da tua digna
liberdade, essas ideias passam por ti, nas conversas, escondidas por palavras
que te encantam, também elas soltas, tão soltas que quando procuras agarrá-las
com a as tuas mãos se esvaem como bolas de sabão, deixando-te na escravidão da
prática das ideias que desvalorizas. Uma escravidão indecente …. mais pobres e
fracos, toldados na clarividência, na digna liberdade, resta-nos praticar
repetidamente as palavras do hino que deveria ser a nossa identidade… mas não
podemos esquecer que são essas as palavras que, nas conversas, escondem as
ideias que não queremos…
Que podemos fazer? voltar a cantar abril?
Obrigado irmão, porque tu que aqui chegaste, há tanto tempo
demais, me dás a tua mão de esperança, para que não fraqueje mais.
Marcos Onofre
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