Joga-se ao tostão, cara a
cara, o momento da vida, no hospital das bonecas.
Mecanismos, luzes fortes,
sons estridentes anunciam a expectativa sem uma resposta definitiva que nos
descanse.
A continuação da vida em
modo suspenso.
Esperança pelo sim.
Que não nos toque o mau
som, que não se apague a nossa luz, que as linhas da máquina continuem
histéricas, para cima e para baixo. Bom sinal.
Desta vez escapámos, foi o
do lado. Somos solidários nos piores momentos, mesmo cheios de egoísmo.
Anjos brancos atarefados
de um lado para o outro, sem parar, usam todos os estratagemas e truques e
magias.
Uma vezes sucedem, quase
sempre, não desistem... são homens.
Um homem de barba vestido
de negro, a mulher também, a família imensa, lá fora acampada, em negro, entram
constantemente por ali adentro, ambiente desinfectado, sem lavar as mãos.
Não ligam a isso apesar
dos protestos constantes dos anjos. Esquecem-se de pôr a bata verde, o verde
que separa o ar puro lá fora, de um pesadelo asfixiante à luz do dia escuro.
Numa nesga qualquer mínima
dos olhos sempre postos concentradíssimos na jogada que se segue, ele vem ter
comigo.
Senta-se ao lado da cama
que eu estou a acompanhar.
O senhor é a pessoa mais bem posta deste sitio e
por isso venho falar consigo.
Andamos os dois a poupar
migalhas ao tempo para o poder levar para casa e vem este com esta conversa!
Na cama que ele acompanha,
a coisa não está correr bem, mas estou muito mais interessado na minha.
Nesta sala enorme só me
apercebo da existência da minha.
Tenho um Iphone para si a bom preço.
Declino olhar para ele.
Concentro-me nos números da máquinas, fundamentais, e dou-lhe a mão, ainda com
mais força. Mais força não, mais Amor.
Num intervalo para um
cigarro quase derrotado, ele insiste e mostra-me o objecto. Dou-lhe o dinheiro
que tenho e não me interessa.
A comunicação que eu quero
não é um telefonema em touch screen.
Quero uma ligação directa
à vida.
A nossa cama foi desocupada e
saímos limpos, prontos para gozar o ar à tripa forra, palhaços, malabaristas,
fazedores das mais excêntricas macaquices que nos vier à cabeça.
Mal fugimos, virámos
costas e quisemos lá saber das outras camas!
O meu Iphone nunca funcionou mas foi o melhor negócio da minha vida.
AMO-TE.
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