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Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2015

O SUICÍDIO

No reino animal o suicídio acontece pouco. Acontece julgamos nós (que não estamos na cabeça dos animais) sem razão pensada deles, por desencadeamento de mecanismos dúbios. Só os homens o fazem por vontade própria, e geralmente tomam tempo para decidir a forma e o momento, ou quando estão encurralados. É um acto difícil de julgar. Cobardia para uns, da maior das nobrezas em espíritos de índole romântica. Seja como for é uma decisão de grande responsabilidade, mesmo para os partidários da amoralidade nos acasos do universo. Tento entender essa possibilidade, compreender os becos sem saída, o cansaço absoluto, a situação terminal. Não sei o que me espera e ainda bem. Lamento não estar confortável com conjugações  karmicas , chamamentos a paraísos paradisíacos, sacrifícios humanos para ganhar a vida eterna. A minha espiritualidade, boçal e eventualmente mesquinha, resume-se a cumprir a única existência que conheço: este momento. Amanhã, gosto de olhar para o

RIO DE ONOR: A FRONTEIRA INVISÍVEL

T odas as manhãs andam os dois numa trabalheira: o cão, enorme, todo branco com uma mascarilha farrusca no focinho, a dar-se ares de encapuzado, e o pastor ensimesmado e de falas nenhumas. Nunca se lhes viu trocarem uma palavra, apesar de andarem há anos juntos. Uma aldeia no fim do mundo, ou no princípio. Uma linha imaginária a traçar um meio, uma divisão territorial abstracta nas gavetas dos burocratas. De um lado Portugal, do outro a Espanha, sem diferenças, afinal sem lados. Só os transeuntes raros e vagos, põem nos óculos esses filtros, porque leram algures, ou ouviram dizer algures que neste povoado comunitário – metade de uns, metade de outros – as pessoas coexistem sem fronteiras, o que de si dá o tom sensacionalista à notícia: uma aldeia excêntrica onde duas nacionalidades comuns coabitam. Partilha do mesmo espaço, em casas de granito com telhados de xisto, que se espelham num rio cristalino nos dias em que o sol projecta imagens. Para se chegar a es