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A mostrar mensagens de fevereiro, 2015

CARTA A SCHAUBLE

U m olhar carregado de ódio. Não é culpa nossa. A vida distribui as suas partidas por cada um, acima de tudo devemos ser decentes com os outros. Não temos culpa. Na fragilidade com que se nasce, vir a ser forte é um desfecho sublime. E muito bem pensado. Só se pode ser “forte” para ajudar os outros a crescerem, enquanto nós também crescemos.  Ser forte porque se ganha o arbítrio de pisar as “beatas”, é debilidade. Ser irredutível nas ideias é debilidade. Centrados sobre as nossas existências diferentes, quiçá difíceis, perdemos a lucidez do real. Ou seja, só o vemos à distância das nossas sombras. Escapa-nos a perspectiva. Às voltas e às noras com as obsessões, vemos desfocado. Amesquinhamo-nos. As decisões que decretamos ao mundo envinagram-se. Decisões dessas não são das boas, são chicotadas masoquistas. Nessa loucura chegamos mesmo ao ponto de deixar de ver, e ouvir, temos as conversas dos outros por débeis e fracamente inteligentes, inebriados pelo re

“A troika pecou contra a dignidade”.

São  deuses, e olham para os infernos com o enfado natural dos deuses, porque não há seres superiores aos deuses que julguem as suas criações imperfeitas. E assim se peca sem castigo, cometendo todas as obscenidades sem que os mortais reajam. Ainda ontem  açanhavam os olhos aos seus pequeninos estendedores de tapetes - dizendo-lhes que já estavam a relaxar nas reformas.  Estes tremelicando para conseguirem o “ quadro de honra ” logo foram pressurosos ao balcão mais próximo de uma qualquer Goldman Sachs , depositar por adiantado uma fatia do espúrio  para pagamento de juros ( são os juros que eles querem pagos a horas,  que a divida propriamente dita, nenhum país paga: é um conceito virtual).  Hoje, porque lhes convêm para enviar os gregos para as trevas, ou pô-los obedientes e bem adestrados e validarem as suas teorias da ditadura do dinheiro e dos interesses próprios, voltamos a ser o exemplo. E o ansioso que estamos por ser exemplo do retorno a níveis de pobreza

MORRESTE--ME, LAMPEDUSA

Há nomes de locais na cartografia do mundo e na dos sonhos, que irrompem sem convite, a seu prazer, imiscuindo-se no pensamento quotidiano dos seres. Uns existem na realidade, outros, imaginários, existem igualmente mas a níveis mais subtis. “Mediterrâneo” existe, é um mar acolhedor porque fechado e de boas águas, reconhecido como matriz, a “grande Mãe”, deste ciclo civilizacional. “Lampedusa”, é uma ilha no meio deste mar, não sei se bela ou não, imagino-a de muitas belezas, influenciado pelas leituras de romances com qualidade. Como os livros – mais ainda os de histórias improváveis bem escritas – são as vitaminas dos sonhos, é perfeitamente natural que as suas palavras influenciem muito a opinião dos leitores, porque eles não mentem e quem lê acredita. Tenho em grande consideração o Mediterrâneo e Lampedusa. Naveguei suavemente no primeiro, a ilha ainda não a descobri, mas gostava um dia. Ficaria muito confortável – para não desarmar a ingenuidade que ganhei n

ÍRIS

Desarmava as pessoas porque não sabiam como reagir.  Aproximava-se demasiado delas, dos limites de conforto, em que cada um se protege das intempéries dos outros. Era esta sua atitude por princípio distraída, mas provocadora, que punha os visados em atitude defensiva. Mas ele não era, não podia ser, de outra forma. Era a sua forma, impressão, pegada como agora se diz. Furtivamente e já estava do lado de cá da intimidade de cada um, o que se tornava desagradável e por isso mesmo inconveniente, dando por vezes azo ao afastamento brusco e repulsa. Só apanhava os incautos ou os muito distraídos, quem o conhecia melhor – que melhor ninguém o conhecia – já não lhe permitia essas aproximações. Vivia num mundo só seu por isso mesmo, por ser um intrometido. A sua táctica, se se pode chamar táctica a um princípio ingénuo de abordagem, era simples: plantava-se de olhos sobre os olhos dos outros, a cair-lhes literalmente na cara. Não desarmava, nem sequer um pestanejo,