Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2016

MIRADESES TEM UM RIO

Formoso. Nasce no estrangeiro – galego - e desagua no Tuela, quando passa na aldeia faz-se de grande, rio crescido, alarga a distância entre as duas margens. Nesse ponto não tem fundura, não ultrapassa a linha dos joelhos de um adulto, não dá para natações, nem exercícios de estilos. No verão os utentes ficam deitados, ancorados ao chão arenoso, nessa doce modorra põem a escrita da vida em dia, olhos alapardados no céu azul. As margens que desenham os contornos dos rios são duas vizinhas rivais. Aqui, uma aloja o casario granítico, ou inacabado, a outra, oliveiras e campo de pasto das ovelhas, que por lá se avistam, guardadas pelos mastodônticos cães de gado transmontano, cães imensos, com feições e corpanzil de se darem ao respeito, todavia, subornáveis por uma boa carícia, como qualquer dos mortais. Uma placa numa pedra em imitação de menhir, anuncia-a como a “Terra dos Engomadinhos”. Pode ser, não se viu nenhum, nem descobriu a origem dessa nomeação.

A DOENÇA

Conheço-o mas não sei o nome. São os nomes que me falham, os rostos não. Os nomes têm letras e são essas que me entontecem. São muitas, não as junto bem. Quando me abordam, os rostos, não sei o que dizer. A cabeça para, fico a observar, a ver no que vai dar. Abordam-me com simpatia, eu queria ser educado, mas não sai nada. Por vezes, desbloqueia-se um encadeado de letras, saem com uma velocidade inaudita, e digo-o, desanuvia-me. Mas o rosto que fiz o favor de lhe dar um nome, não gosta.  Contrapõe com perguntas inconvenientes. “Quem é ele?”, “Como se chama?”, “Graus de parentesco?” Nesses momentos fico cansado, enervo-me, perco o controlo das letras, e para não ser inconveniente, olho, só olho, de olhos bem abertos, sem nada para dizer. Ainda ontem, deve ter sido ontem, estava a tratar de uns assuntos importantes com a minha mãe, na cozinha, coisas da morte dela e do funeral que não gostou porque teve pouca gente, estavam também uns amigos do Gás que entraram pelas esc

DARWIN E A EVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES

Quando uma sociedade não reage - não os cidadãos em geral, que esses só se queixam, ou dizem mal, ou tentam arranjar estratagemas criativos de imitação dos grandes corruptos, os verdadeiros modelos do mundo moderno –, nas suas estruturas inflexíveis, simplificando e deitando um simples olhar humano para os outros, em vez de seguir os guiões dos protocolos, das convenções, das ordens de serviço, da linha burocrática do requerimento, dos carimbos, dos tempos intermináveis que a burocracia inventou para fazer esmorecer as pessoas;quando chegamos a esse ponto em que a miséria, a fome, os maus-tratos, a morte, são laçarotes descoloridos que enfeitam as notícias das televisões,sempre as mesmas histórias, todos os dias iguais, só com nomes de actores diferentes; quando chegamos aqui, assim, não parece que tenha havido uma evolução na espécie. Claro que existem estradas magníficas que intersectam toda a geografia; um número incontável de carros confortáveis e rápidos que levam as pess