São labaredas e enormes, têm mau aspecto, feias. Toros grossos
de madeira ardem descuidadamente, chispam faíscas. Fumo branco. Como todo o
fumo, escapa-se na lógica de subir às alturas e dissipar-se. Os bombeiros, atarefadíssimos,
andam de um lado para o outro, concentrados nos trabalhos sérios dos bombeiros,
cada um na sua missão. Trabalham bem em equipa.
Falam-se poucas palavras. Nestas condições para se ser
preciso, não se fala mesmo.
Há tensão no ar, também nervosa. O ambiente está carregado,
mas a organização é exemplar, a resposta imediata, irrepreensível.
Quando parecia que tudo estava perdido, afinal as primeiras
sardinhas do ano estão excelentes. Comem-se no quartel de bombeiros de Queluz,
urbe densa, que não tem só um palácio azul e quartel de tropas artilheiras e
gente de multiculturas que a vivem, como igualmente uma comemoração dos santos
populares -no que respeita ao aprumo do serviço, a diversidade da carta e a
qualidade do produto – ao nível do que melhor se pratica nos bairros típicos de
Lisboa.
É assim, canta-se a santo António, ao João e ao Pedro. E
baila-se. Acha-se bem que o façam, os aficionados do bailarico e das cantilenas
com rimas populares simples, singelas, algumas com um travo um tudo-nada picante, para apimentar um pouco estas vidas
dos cansaços próprios das vidas.
Este mês é o nosso carnaval, e para nós que ninguém nos lê, o
nosso é muito mais bonito que o deles, os do outro lado do mar! (com exclamação
e tudo).
Nós preferimos comer a bater o pé e enquanto nos apascentamos
em mesas corridas na garagem do quartel dos bombeiros, deliciamos os olhos nos
anúncios patrocinadores destas festas, escarrapachados nos painéis que forram
as grandes portas por onde saem os tinónis
nas emergências.
Agora descansam estacionados em fila na rua em frente. Em
tempos de festas, os deuses são benevolentes e autorizam poucos acidentes dando
aos soldados da Paz, a que eles
necessitam para assar a sardinha convenientemente, apesar de ser só fumaraça.
E como se dizia, enquanto se pratica o desbaste do filete e o
pingar do azeite enaltece a fatia de pão
que se vai comer no final, passam-se os olhos pela publicidade: “Suzy Bell” a
cabeleireira que se imagina, pelo nome, ser uma vedeta do circo e do funambulismo;
“O retiro de Queluz”, que se julga um lugar de repouso geriátrico mas que é a
melhor venda de caracóis, caracoletas e afins da zona; e a “Chuva de
tentações”, que não é uma loja de artigos eróticos, como podia julgar-se, mas
uma pastelaria fina.
Está a sardinha encorpada e o pimento, tenrinho e avinagrado.
“Santo António já se acabou,
O São Pedro está-se a acabar,
São João, São João, dá cá um balão,
Para eu brincar…”
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