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Mensagens

Cordeiro de Deus

O cordeiro de deus , cabrito com que comemoramos a páscoa. Sacrifício como júbilo da ressurreição. É muito bom, cozinhamo-lo bem, e dessa forma comemoramos uma tradição. Na mesa, os miudos e os graúdos, não atribuem simbolismo à refeição. Simplesmente comem com gosto. Este ano foi diferente. Os restaurantes tinham reservas feitas com antecedência – mesmo para homenagear o renascimento temos que marcar lugar – e a família, que nisto de datas não perde pitada, recebeu a bênção do jejum num restaurante paquistanês. Somos todos filhos de deus! Deram-se alvíssaras com as chamuças, o nan, a tikka masala. Neste almoço de Páscoa, deu-se o renascimento da família, com muito Amor. Conheci hoje a minha nova sobrinha, também do meu sangue, quatro anos, linda, a futura mulher mais encantadora do mundo! O seu novo avô, alheado da vida no cansaço da rotina absurda dos comprimidos, descompôs-se   num sorriso que já não se lhe via desde a sua infância.

Ao meu Amigo Gabriel

Morre um homem e logo nasce outro. Alguém sentirá a sua falta, um dia outros sentirão , pelo que nasceu agora. Sentimos a falta de um corpo que deixou de existir. Isso doí e leva tempo, se é que alguma vez se consegue, esquecer na sua totalidade. O que esse homem no entanto disse, se nos tocou, por terem sido palavras gémeas das nossas, não se esfuma com um sopro, nem com o mais assustador dos vendavais. Fica pregado à nossa pele, supremo odor de um perfume raro. Obrigado meu amigo, gostamos tanto das mesmas palavras! Só a boa literatura descentra um gesto aparentemente obsceno, no mais revelador dos sorrisos. Grande fotografia essa. E nesse   enorme sorriso, atracamos a bom porto, superadas as intempéries da vida, sempre muito perigosa. Mas se de quando em vez não a mandamos ver se chove, como merece, não arrojamos como tu, tão despreocupadamente, por outros e desconhecidos caminhos, lá onde seja. Por favor, se não te

Matinas

Uma cela. As paredes já foram brancas, há quanto tempo? Agora sem cor que se lhe conheça nome na paleta da memória das cores. O chão também sujo desse não branco, lajedos quadrados, irregulares, muito frios. Pouco mobiliário, se é mobiliário a união de tábuas rudes de madeira, sim isso mesmo, unidas com o objectivo simples de servirem um propósito elementar. Um catre de tábua corrida, um colchão fino como   carpaccio de feno fresco, uma manta descolorida áspera que não aquece.   Cadeira, mesa e nesta um coto de vela; pequeno oratório com um crucifixo na parede; tapete velhíssimo, genuflexório; uma tina de metal, redonda no centro da divisão, receptáculo das brasas, sinais de vida neste lugar. A cela abre-se a um pequeno jardim privado, ultrapassada uma porta que deixa passar  ventos frescos . Cinco passos curtos em qualquer direção a partir de uma oliveira, eixo desta representação do universo. Muros altos delimitam o espaço para lá das alturas de um homem, viram-se o

O festim

Horas perturbadoras,dias inquietantes,lapsos temporais, estonteantes vazios de frustração e pena. Terra de ninguém, travessia infértil de ideias. Fraqueza redundante. No esgotamento e desistência brota uma palavra do nada,  outra que vinda se junta ao festim. No fogacho, fogo fátuo,  irrompe uma ideia, depois a frase que a exprime. Apareceram quando se ansiava tanto, bem vindas sejam! Na abstração do pensamento gera-se um novo ser, abrindo caminho numa folha de papel. Orgia de arromba!  Irrompem sem tocar a campainha, trazem as figuras de estilo e mais amigos, enchem de iguarias o salão Vai ser até as tantas, grande e magnífica ressaca esta! Das palavras que se desembrulham em papelotes coloridos.