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REPOUSO

Neste exactíssimo momento dou por encerrado o dia.  Está na casualidade o vir a acontecer um grande desprendimento de responsabilidades, por tudo o que aconteceu nas últimas vinte e quatro horas. Passado passou, não se pensa mais nisso. Amanhã, se despertar para aí virado, e o banho que decide muito do futuro do dia correr bem, encaro a hipótese de querer dar uma volta no mundo. Se mais para a tarde me começar a entediar e chegar à conclusão de que é muito esforço, adio tudo para um dia próximo, ou longínquo, logo se verá. Uma coisa é certa, chegada a noite quero desanuviar e não ter nada a ver com o que se passou durante o dia. Arrasto-me para os meus e tenho um desinteresse cosmológico de tudo menos os que já disse serem meus e as coisas que me distraem. Tenha por favor a gentileza de baixar o pano.

A FALSIDADE DO MÊS DE ABRIL, A FAZER PACTOS COM O MAL

Poderia dizer-se que este mês de Abril está perto de ser o melhor de todos por ser o mês das flores, dos pássaros, das abelhas e de todos os enamorados que se passeiam mais enamorados ainda porque o tempo está a ficar agradável e é bom sair à rua. Poderia dizer-se que é um mês que já nos deu muita felicidade, e esperanças então, nem se fala. Pode dizer-se tudo isso e é verdade, mas custa dizer-se que também está a ser um mês da maldade que anda à solta, espalhando ódios, medos enormes, devastações, desprezo da vida humana, o regresso de todas as barbáries. Não sabemos se por amarguras pessoais, suas e intimas, está a ficar um mês diferente, transformou-se, tornou-se dúbio, já não é confiável. É uma pena que assim seja. As flores obviamente continuarão sempre a serem lindas, os pássaros livres quase todos e as abelhas a produzirem mel e serem muito laboriosas, mas as pessoas estão diferentes. Umas apáticas, estão cá como se não estivessem, distraídas somente

E O QUE TE ABRAÇO!

Estendes os braços nus, finos, oferecem-se assim, pedem resposta. São provocantes, não são provocantes, são absolutamente meus, esses braços, com a intenção honesta de me abraçar, só a mim, e porque estão nus e são finos, levo a intenção ainda mais a sério. Não. A tua intenção nesse jogo subtil de se pensar que é uma oferta, é afinal que seja eu a abraçar, estendendo os meus braços menos finos e menos femininos, mas teus, quando chego à distância de o conseguir. Com a melhor das simples resoluções, faço-o sem considerações filosóficas, muito menos mesquinhas. Chego-me, um aproximar dos tímidos. Abraçamo-nos, e não temos palavras encadeadas e suficientes para explicar com clareza o que aconteceu aos outros.  Nem estamos interessados em divulgar. Se um dia voltares a estender os teus braços finos e aveludados e se eu estiver a assistir à provocação, deus nosso senhor me agarre, atropelo-me, tonto, ponho-me a caminho de ti. Tenho que ser o primeiro a

A CONTA DA ÁGUA

Aproxima-se o momento das plantas enclodirem em deslumbramentos de cor. Na quantidade incontável dos parentes da natureza, as plantas são dos mais belos, mas não são vaidosas e por isso são ainda mais belas, pela tocante simplicidade com que se nos oferecem. Humano e agarrado a pormenores que não me explico nem desculpo, estou preocupado com a conta da água, caríssima e injusta. Sei que as plantas andam por aí a abrir-se de pétalas de ficarmos com a boca aberta, mas para mim o banho é um momento de eternidade, e como são poucos esses momentos e eu gosto, se os perco porque não paguei a conta, fico ainda mais efémero, que é uma deficiência que ninguém quer. Enquanto puder pago a conta, para continuar a ter o prazer de ser eterno e assim ter espaço na minha cabeça para me lembrar de uma coisa muito mais importante do que a eternidade que são as flores florirem e serem escandalosamente belas. Eternas são elas. As flores desabrocham na cidade, como e onde querem,

PORQUE NÃO SOU JURISTA

Os meus pais queriam que eu fosse jurista, mas escapei-me. Fugi para casa de uns primos afastados que tinham um negócio de venda de bifanas itinerante, numa rulote, na Alsácia. Tornei-me vendedor ambulante. Encontrei o meu caminho e sou feliz, mesmo pagando impostos elevados. Recebem-me quando venho no verão matar saudades (já me custa falar), mais da terra do que das pessoas, mas não são espontâneos, sei que no fundo nunca me perdoaram. Não foi por não ter sido doutor, foi por não ter sido jurisconsulto, a carreira mais habilitada ao sucesso de todas as que existem, segundo a sua opinião e de conhecidos seus que frequentam a pastelaria “Boca Doce”, na venda de fruta da Dona Joaquina e na farmácia “Central” que nunca conheci o dono, só o empregado que se chama Carlos e é da minha geração. São capaze s de ter razão, descobrem-se jurisperitos , e bem sucedidos, em todas as profissões: ministros quase todos, parece que foram feitos para ministros; políticos e deputados,

MELANTROPO (palavra inexistente)

REFLEXÃO: DO BEM E DO MAL

A origem do mal não se sabe, nem a do bem.Podem não ter origem nem existirem. Aceita-se que uma flor faça essa distinção, a seu modo de distinguir. É difícil acreditar que um seixo redondo do rio o faça, ainda assim aceita-se a possibilidade, num esforço de acreditar. O que dizer dos homens, que escrevem belos livros e entopem o mundo de escritos e escritos, sobre todas as matérias? Finos pensamentos sobre conhecimentos vastos, entendimento das coisas transcendentes e outras, tudo, tudo. Porque se equivocam tanto nas distinções das coisas? Algumas tão simples e triviais?