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SEXTA-FEIRA DIA DE POESIA

Hoje é sexta-feira Dia de poesia. Ė o único motivo e é plausível. Não fosse sexta-feira, Um dia que fecha os olhos a rimas e métricas, E apetecia dizer MERDA. Os dias não estão para simpatias. Merda não rima com nada pelo cheiro. A não ser hoje ser sexta-feira, e estarmos convencidos que só a chuva quando queremos sol, pode estragar os nossos panos de felicidade,  Deixamos a merda para depois. O mundo só se desconjunta nos dias de semana. Nisso é formal..

GALERIA DAS CURIOSIDADES - capítulo 1

E smiudamos o Gabinete das curiosidades, para os lados da Atalaia, ao Bairro Alto, onde o artista recriou um proto-museu romântico. É um lugar simples de estar, um estabelecimento que será de comeres onde entretanto um "ocupa" faz pintura no ritmo lento do bairro, meio-adormecido nos dias   praticamente em suspenso , na expectativa, sempre a mesma, de noites movimentadas. Aparecem fugazmente alguns amigos e desconhecidos, ficam a usufruir e desenrolar palavras que tricotam conversas,  algumas interessantes,  se não forem só monólogos, e silêncios, que os há no intervalo da música companheira inseparável sempre a fazer-se ouvir. Passa também p or lá uma fotógrafa, enfunada de sensibilidade e bom-gosto, e capta momentos. São esses momentos que apresentamos nesta galeria improvisada. Espera-se que as fotografias-quadros estejam bem penduradas - inclinadas não estão - com a ordem que não é nenhuma, é a de serem todas boas. O Pintor é o Paulo Robalo, a fotógrafa a Clá

O GABINETE DAS CURIOSIDADES

Semana 1 Bricabraque, armazém das coisas inúteis, cemitério das recordações, colecção incoerente, casa das estranhezas, exposição do esqueciment o, salão das curiosidades, ajuntamento de extravagâncias. Há uma mistura de odores velhos, difícil de identificar. Perfumes bons e rascas, tabacos de latitudes várias, muitos mofos. Faz um nevoeiro permanente na sala de grandes paredes altas, com uma cor indefinida. Absorveram-se os odores com os pigmentos da cor original que as cobria, não se recorda quando, desde há muito, sempre foi assim, transformando-a numa cor única, irrepetível. Presos ao tabuado corrido muito gasto de muito pisado, agradecido depositário de camadas de cera cuidadosamente puxada a brilhos anos a fio por mãos experientes, estacionam sofás de veludos fortes, igualmente esbatidos e que merecem o respeito do tempo. Almofadas com motivos de tartans das ilhas de sua majestade, ajudam os corpos a ajeitarem-se e encontrar posição. Al

REPOUSO

Neste exactíssimo momento dou por encerrado o dia.  Está na casualidade o vir a acontecer um grande desprendimento de responsabilidades, por tudo o que aconteceu nas últimas vinte e quatro horas. Passado passou, não se pensa mais nisso. Amanhã, se despertar para aí virado, e o banho que decide muito do futuro do dia correr bem, encaro a hipótese de querer dar uma volta no mundo. Se mais para a tarde me começar a entediar e chegar à conclusão de que é muito esforço, adio tudo para um dia próximo, ou longínquo, logo se verá. Uma coisa é certa, chegada a noite quero desanuviar e não ter nada a ver com o que se passou durante o dia. Arrasto-me para os meus e tenho um desinteresse cosmológico de tudo menos os que já disse serem meus e as coisas que me distraem. Tenha por favor a gentileza de baixar o pano.

A FALSIDADE DO MÊS DE ABRIL, A FAZER PACTOS COM O MAL

Poderia dizer-se que este mês de Abril está perto de ser o melhor de todos por ser o mês das flores, dos pássaros, das abelhas e de todos os enamorados que se passeiam mais enamorados ainda porque o tempo está a ficar agradável e é bom sair à rua. Poderia dizer-se que é um mês que já nos deu muita felicidade, e esperanças então, nem se fala. Pode dizer-se tudo isso e é verdade, mas custa dizer-se que também está a ser um mês da maldade que anda à solta, espalhando ódios, medos enormes, devastações, desprezo da vida humana, o regresso de todas as barbáries. Não sabemos se por amarguras pessoais, suas e intimas, está a ficar um mês diferente, transformou-se, tornou-se dúbio, já não é confiável. É uma pena que assim seja. As flores obviamente continuarão sempre a serem lindas, os pássaros livres quase todos e as abelhas a produzirem mel e serem muito laboriosas, mas as pessoas estão diferentes. Umas apáticas, estão cá como se não estivessem, distraídas somente

E O QUE TE ABRAÇO!

Estendes os braços nus, finos, oferecem-se assim, pedem resposta. São provocantes, não são provocantes, são absolutamente meus, esses braços, com a intenção honesta de me abraçar, só a mim, e porque estão nus e são finos, levo a intenção ainda mais a sério. Não. A tua intenção nesse jogo subtil de se pensar que é uma oferta, é afinal que seja eu a abraçar, estendendo os meus braços menos finos e menos femininos, mas teus, quando chego à distância de o conseguir. Com a melhor das simples resoluções, faço-o sem considerações filosóficas, muito menos mesquinhas. Chego-me, um aproximar dos tímidos. Abraçamo-nos, e não temos palavras encadeadas e suficientes para explicar com clareza o que aconteceu aos outros.  Nem estamos interessados em divulgar. Se um dia voltares a estender os teus braços finos e aveludados e se eu estiver a assistir à provocação, deus nosso senhor me agarre, atropelo-me, tonto, ponho-me a caminho de ti. Tenho que ser o primeiro a

A CONTA DA ÁGUA

Aproxima-se o momento das plantas enclodirem em deslumbramentos de cor. Na quantidade incontável dos parentes da natureza, as plantas são dos mais belos, mas não são vaidosas e por isso são ainda mais belas, pela tocante simplicidade com que se nos oferecem. Humano e agarrado a pormenores que não me explico nem desculpo, estou preocupado com a conta da água, caríssima e injusta. Sei que as plantas andam por aí a abrir-se de pétalas de ficarmos com a boca aberta, mas para mim o banho é um momento de eternidade, e como são poucos esses momentos e eu gosto, se os perco porque não paguei a conta, fico ainda mais efémero, que é uma deficiência que ninguém quer. Enquanto puder pago a conta, para continuar a ter o prazer de ser eterno e assim ter espaço na minha cabeça para me lembrar de uma coisa muito mais importante do que a eternidade que são as flores florirem e serem escandalosamente belas. Eternas são elas. As flores desabrocham na cidade, como e onde querem,