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FUMAR MATA

Eram em número de três, mas a simbologia dos números é um assunto tão distante neste episódio como chamar Pitágoras para a conversa. Acabados de sentar na mesa que quiseram escolher, o restaurante estava vazio por ser Páscoa e as pessoas na primeira oportunidade não vão trabalhar. Se for para comemorar uma efeméride religiosa melhor, todos muito religiosos, mais às sextas e segundas, se der ponte aprofunda a fé. Sentaram-se e ainda nem pediram nada. O prato do dia é carne de porco à alentejana. O detalhe do prato está na frescura da ameijoa e nos pickles. Se forem honestos com estes dois ingredientes, só com muito azar é que as batatas devidamente fritas e secas não se apresentam aos quadrados crocantes. O porco é simples: temperado com pimentão, uma pitada de cominhos, pimenta preta e frito com um bom azeite, não deixa ficar mal o executante. Há quem ponha louro. Nem água estava na mesa, somente pratos brancos menos mal, guardanapos de papel menos bem, um garfo, uma f

AMOR PERDIDO

O destino separou-nos na rotunda do Marquês de Pombal. O teu futuro subiu a Fontes Pereira de Melo, O meu a Joaquim Augusto de Aguiar. Nos dez segundos que o semáforo levou a passar do vermelho ao verde, Vivemos a mais intensa história de amor. Não guardo rancor pela separação. A culpa foi dos dois, não podíamos parar os carros e beijar-nos sofregamente no meio de uma rotunda. Amei-te intensamente, e tu a mim, que percebi nos teus olhos. Como te chamas?

O MEU MINIMEU

Feliz estou muito, mas igualmente apreensivo. O meu filho que não posso nomear nome próprio para preservar a sua intimidade, estava ansioso para viver. Uma vez criado, que seja para viver. Sete meses no tédio da barriga da mãe, cansadíssimo, com ruídos incomodativos a todo o instante, foi mais do que suficiente para considerar-se fisiologicamente capacitado a ter sucesso numa carreira a solo. Não posso estar em desacordo com a decisão, uma vida é um tempo tão pouco, se estamos prontos porque não avançar? Foi o que fez. Obrigou-se a ser parido. Esteve três dias a ponderar as condições e tomou conta do seu assunto: mandou o tubo do oxigénio dar uma volta, achou que continuar no escuro era entediante e contra conselho médico, entreabriu os olhos, que eu, pai, ainda não sei a cor, não lhos vi bem. Os médicos nem sempre têm razão e o meu filho tem uma personalidade forte. Se quer ver que veja, se quer fazer escolhas fracturantes que faça. Sou adepto de uma edu

DO AMOR

Amante com um grande potencial por realizar e  não se percebe porque ainda não teve sucesso. O amor é o tema mais empolgante dos ritmos do coração, os outros são obrigações de músculo. O amor é uma ponte suspensa – um cabo de aço tenso – entre a suposição e a realidade. Permite dois caminhos bi-unívocos. Não há bons nem maus funambulistas, ou os candidatos se equilibram e não mergulham de cabeça no grande vazio, ou o mergulho é o desfecho esperado, sem que se saiba, para não desmoralizar os equilibristas quando dão o primeiro passo. É no pingue-pongue dialético do amor-desamor que nos atrapalhamos a todos os momentos. É o mais complexo dos desafios e não é controlado pela cabeça - dito a frio para que fique dito. Continuando: é nos ângulos das ruas que se chamam esquinas de amor-desamor (que pode ser júbilo-abandono) que tiramos as medidas à vida, fazemos bainhas, às vezes ficam curtas. Pode-se optar por ver televisão. Nas influências do amor pairam

GALERIA DAS CURIOSIDADES - capítulo 2

Hoje deitam-se as vistas sobre a pintura e o desenhos, pendurados nas paredes, encostados a algo, em cima de algum objecto que pode ser uma prateleira, um móvel, uma qualquer coisa que sirva a função. Neste proto-museu, o curador é o criador, é dos poucos armazéns de arte onde não há luta de classes. Apaixonado quase por igual por todos os seus feitos, as obras, os seus meninos, não escolhe uns e outros não: expõe todos. O visitante que escolha por si e sem guião, que o criador não tem explicação para o que criou nem história para contar. É um pantomineiro, de belas pantominas. o sítio Pontas soltas Um tio afastado de perfil, uma certa exposição em Setúbal há muitos anos, um lutador de Sumo. O tal tio muito afastado. Rostos Amigos do estrangeiro. Riscos que podem se fios soltos de um tear,não se sabe. Assinatura Caras de conhecidos e amigos. Pensos nos orgulhos feridos

SOBRE ESFERAS

Os carrinhos de esferas, isso sim é uma memória épica. Tínhamos um entrave logístico que deu muito concílio e não foi fácil de resolver: o plano inclinado. Sem um não havia corrida. Analisámos, da forma que as crianças analisam as coisas, que é a de não haver complicação nenhuma e avançámos, porque o importante é a brincadeira e para isso todo o tempo era pouco. Os que tinham dúvidas sobre o pano inclinado e ficaram ainda a pensar, eram os panhonhas, e ainda hoje são, se bem alguns tenham conseguido sucessos, diga-se financeiros, não se percebe bem porquê. Os desenrascados queriam brincar, sem mais planos nem reflexões esdrúxulas. Alguns destes, eram tão desenrascados que depois de feitos, vida feita e tudo, tiveram que emigrar para pagar as contas dos anti-histamínicos – pela hora da morte – dos filhos. Voltaram para África, desta vez com Vistos de permanência reduzida.   Só podia ser na rua dos Altos Estudos Militares, que tem uma inclinação apropriada - nem muit

SEXTA-FEIRA DIA DE POESIA

Hoje é sexta-feira Dia de poesia. Ė o único motivo e é plausível. Não fosse sexta-feira, Um dia que fecha os olhos a rimas e métricas, E apetecia dizer MERDA. Os dias não estão para simpatias. Merda não rima com nada pelo cheiro. A não ser hoje ser sexta-feira, e estarmos convencidos que só a chuva quando queremos sol, pode estragar os nossos panos de felicidade,  Deixamos a merda para depois. O mundo só se desconjunta nos dias de semana. Nisso é formal..