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Mensagens

ALDRABILHAS, é a palavra mais suave que conheço para designar com carinho os biltres. A minha vénia de gratidão a alguns, tantos,   políticos do meu país. Pedrogão Grande, ou pequena, fica onde? Foi já ali.

ONTEM - FOLHETIM 5

A escola não tinha campainhas, era por intuição, mais ou menos, que se acertava o tempo certo do recreio. Mais ou menos três da tarde. Correm, quase num andar correr contido - porque são meninas - para o pátio, correm elegantemente. Ainda não estão todas e entra em cena o Stevens, um modo de dizer. Ele não está presente, a sua voz.  Os argumentos todos para as arrumar à primeira com o primeiro argumento. Como disse alguém, que tudo disse o que havia de interessante e bem pensado para se dizer de uma vez por todas sobre todos os assuntos do mundo, as alunas dóceis que naquele tempo tinham que ser dóceis, começaram por estranhar comportadamente a música. Segredaram coisinhas suas, inseguranças - em situações assim falam-se coisas - e por fim entranharam, tomaram gosto. Depois desse primeiro momento, tenso, indeciso, os radialistas animados, deram o seu melhor: a playlist era pôr todos os discos a tocar, uns após os outros. Salvador, locutor, só fazia separad

UM NOME

Estou a perder um nome. Tropeçou, Distraído, No poço da memória. Abstraíu-se, Caiu de borco, Fundíssimo, nos fundos de um poço imenso. Há cordas fortes e compridas Para o resgatar? Atenção, No silêncio pesado, ouvem-se ecos, débeis. No eco, reside a esperança. Como era o seu nome? Talvez se possa salvar. Seria uma catástrofe, Uma perda irreparável. Não se pode perder um nome.

CORNOS PISCA-PISCA

Sacana do bicho, um toiro. Fogueteava dos cornos. Parecia a torre Eiffel, não uma, duas , no quatorze de Julho a chispar fogos de artifício. Nunca antes se tinha visto um fenómeno que só podia ser do Entroncamento mas foi em Benavente, um toiro luminescente. Estamos cada vez mais na moda, temos tudo e melhor. É de tanto ouvirem falar no nome do nosso país, que desaguam por aí, a rodos, de dedão no chinelo, hectolitros e hectolitros de turistas europeus. Não é pela instabilidade na bacia do mediterrâneo, ou  porque a Turquia teve alterações climatéricas repentinas, não, é porque somos mesmo o país que mais vezes está nas tabelas do “Guiness”. E as pessoas gostam de um país assim: inovador e único. Somos os melhores e por que raio não nos tínhamos apercebido disso antes? Estranho! Porque andamos desde o Senhor Henriques sarnados de melancolias e desistências, quando somos do melhor! Temos uma raça de toiros faiscantes, fenómeno muito mais saudável que um atropelamen

ONTEM- FOLHETIM 4

Troveja a esplendidez da tarde, segundo acto do dia. A Dona Elvira é boa pessoa, tem uma filha obesa e um gato. Dada a sua condição avantajada, Elvirinha a filha que repete o nome da mãe, pouco sai de casa, debruça-se da janela da marquise e a cabeça de fora conta como ter saído de casa. É pouco mais velha mas parece da idade das criadas, velha portanto, mas muito menos interessante sexualmente do que as primeiras, viçosas, roliças, rijas. Tudo indica que a sua vida se encaminha para vir a exercer a profissão de leitora compulsiva, um sacerdócio Infrequente. Este género doentio de leitores, de lerem muito, ou são obesos, ou magríssimos, ou fleumáticos. Também há de todos os outros, pelo que há de tudo. As relações entre moradores e estudantes não são as melhores. Existe distanciamento, quase omissão. Anda no ar, como se diz. Os dois  grupos delimitam  territórios com pouca mistura. Há  uma solidariedade tácita no grupo dos residentes apesar de fora das horas destas con

A VIDA NO SEU GERAL

Hoje não choveu, ou pouco; não ardeu, ou menos; não calorou - ou muito ou pouco - de ter feito calor com uma palavra inexistente e aceite.  Foi um dia banal, no sentido de acontecimentos dignos de nota noticiável. Hoje não se resolveram as dúvidas que se tinham de ontem, ainda menos se esclareceram as de hoje, e fica-se a distância longínqua de se ter uma vaga ideia sobre as precauções que se devem tomar relativamente a amanhã, dia perigosíssimo, porque é desconhecido. Sendo todas, estas, as co ndições que se apresentam, é de uma grande probabilidade, que as pessoas, incomodadas por tanta dúvida insegura, sejam levadas a dizer mal da vida em geral, e dos acessórios da vida que constroem o seu geral.

FICÇÃO

Podemos inventar sem ir? Escrever sem ver? Podemos, anunciando com trompetas A entrada em cena da ficção. Feito assim, nesse preceito, Aceita-se a fraude.