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MISTÉRIO

Um olhar atento apanha a intenção, Nenhuma, Senão um esperguiçado, lânguido, longo, Olhar de vedeta de cinema. Mudo. Não o olhar. A pose enfática, ou suavizada, É igual. Pode não haver intenção, Uma declaração não declarada de intenção. De não ser nenhuma. E todavia, denuncia uma vontade qualquer, De vedeta de cinema, A olhar para o lado, De um olhar atento que a olha.
Arfar, ofegante arfar do peito. Em instantes dá-se a suspensão da respiração. A acontecer na fina superfície da pele epiderme, Que reveste o corpo, Com todas as histórias individuais que traz consigo. Anelando uma mão desconhecida, que quer conhecer, Dedos finos, compridos, sensíveis. Que a toquem, Com a maior das ternuras do desejo. Deseja dedos competentes e sinceros, Só aflorando, leve, levemente, A pele que agora já os espera com ardor. Na ideia de usufruir toda a qualidade de carícias: Decentes, indecentes e obscenas. Tudo isto se imagina, Num peito a arfar.

O MAR E UM HOMEM

A tranquilidade de o mar tranquilo que  também faz esses momentos de descanso de si mesmo, de não ser sempre revoltoso, em cascatas de ondas feias. Assim tranquiliza o homem que o olha. Espelham-se um no outro, e embora não se  sabendo, o mar pensa precisamente nisso: na  acalmia que lhe transmite o homem tranquilo  quando olha sem exigências para si.
ALDRABILHAS, é a palavra mais suave que conheço para designar com carinho os biltres. A minha vénia de gratidão a alguns, tantos,   políticos do meu país. Pedrogão Grande, ou pequena, fica onde? Foi já ali.

ONTEM - FOLHETIM 5

A escola não tinha campainhas, era por intuição, mais ou menos, que se acertava o tempo certo do recreio. Mais ou menos três da tarde. Correm, quase num andar correr contido - porque são meninas - para o pátio, correm elegantemente. Ainda não estão todas e entra em cena o Stevens, um modo de dizer. Ele não está presente, a sua voz.  Os argumentos todos para as arrumar à primeira com o primeiro argumento. Como disse alguém, que tudo disse o que havia de interessante e bem pensado para se dizer de uma vez por todas sobre todos os assuntos do mundo, as alunas dóceis que naquele tempo tinham que ser dóceis, começaram por estranhar comportadamente a música. Segredaram coisinhas suas, inseguranças - em situações assim falam-se coisas - e por fim entranharam, tomaram gosto. Depois desse primeiro momento, tenso, indeciso, os radialistas animados, deram o seu melhor: a playlist era pôr todos os discos a tocar, uns após os outros. Salvador, locutor, só fazia separad

UM NOME

Estou a perder um nome. Tropeçou, Distraído, No poço da memória. Abstraíu-se, Caiu de borco, Fundíssimo, nos fundos de um poço imenso. Há cordas fortes e compridas Para o resgatar? Atenção, No silêncio pesado, ouvem-se ecos, débeis. No eco, reside a esperança. Como era o seu nome? Talvez se possa salvar. Seria uma catástrofe, Uma perda irreparável. Não se pode perder um nome.

CORNOS PISCA-PISCA

Sacana do bicho, um toiro. Fogueteava dos cornos. Parecia a torre Eiffel, não uma, duas , no quatorze de Julho a chispar fogos de artifício. Nunca antes se tinha visto um fenómeno que só podia ser do Entroncamento mas foi em Benavente, um toiro luminescente. Estamos cada vez mais na moda, temos tudo e melhor. É de tanto ouvirem falar no nome do nosso país, que desaguam por aí, a rodos, de dedão no chinelo, hectolitros e hectolitros de turistas europeus. Não é pela instabilidade na bacia do mediterrâneo, ou  porque a Turquia teve alterações climatéricas repentinas, não, é porque somos mesmo o país que mais vezes está nas tabelas do “Guiness”. E as pessoas gostam de um país assim: inovador e único. Somos os melhores e por que raio não nos tínhamos apercebido disso antes? Estranho! Porque andamos desde o Senhor Henriques sarnados de melancolias e desistências, quando somos do melhor! Temos uma raça de toiros faiscantes, fenómeno muito mais saudável que um atropelamen