A mulher mais bela, de uma beleza que remete o resto da criação ao tédio, dança sevilhanas em El Rocio. Há trinta anos. Na sua altivez andaluza, executa rituais ancestrais, num dançar que faz tremer os alicerces do mundo. Os tacões deixam vincos na terra. Rosto lindíssimo e tão sério, ângulos num corpo que se não fosse o corpo mais sensual, seria de uma grande violência. Depois de uma visão assim, inapropriada, consome-se a ingenuidade, no tempo do tempo da dança. A partir daí, o vazio. Esfuma-se a andaluza no nada, fica a utopia de uma andaluza, e o quotidiano toma conta das ocorrências da vida, Leva a procissão inteira ao colo até ao dia do seu óbito mas ela queria ir por seu próprio pé. Memórias de uma fotografia que se encontra por acaso, na trasladação de memórias do passado.