O truque é a abstracção. Não é pensar abstracto, é abstrair-se, escapar para longe ficando no mesmo sítio. É quase uma coisa de iogui avançado. Iliana fazia-o desde pequena, aprendeu com a mãe, que já vinha da avó e daí para trás. Iliana é muito viajada, apesar de ainda ser jovem. Conhece a Europa de uma ponta a outra, de Norte a Sul. A boa Europa claro, a rica. Nomeie-se uma praça, um monumento, uma rua comercial, ela conhece-as todas. Não de nome, mas já lá esteve, e esteve constantemente estando, não é como os turistas que estão de fugida. Não, ela é uma viajante de permanências prolongadas. Deve o seu cosmopolitismo a esse poder de abstracção. Quase um dom. Sem essa capacidade, como seria possível aguentar estar um dia inteiro, sentada no passeio com um copo de plástico na mão, a mendigar para esse copo quase sempre vazio, em frente a um belo restaurante com um belo terraço com janelas panorâmicas, de vidro, corridas do chão ao tecto com um sistema basculan